Foi assassinado ontem, na cidade de Maputo, o constitucionalista francês naturalizado moçambicano Gilles Cistac.
Gilles Cistac, que exercia o cargo de Director-adjunto para a Investigação e Extensão da Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane e era advogado inscrito na Ordem dos Advogados de Moçambique, foi baleado cerca das 8.45 horas, tendo perdido a vida pouco depois das 13.00 horas em plena intervenção cirúrgica para lhe extraírem os projécteis alojados em determinadas regiões do corpo.
Segundo dados obtidos, o Professor não terá resistido à gravidade dos ferimentos resultantes das balas assassinas disparadas por um quarteto de criminosos ainda a monte, acabando por sucumbir já no leito hospitalar nas mãos da equipa médica que o assistia.
O Professor foi alvejado a tiro de uma metralhadora “AKM”, no bairro da Polana, mais concretamente numa das esquinas entre as avenidas Eduardo Mondlane e Mártires da Machava, quando saía do Café ABC, antigo Wimbe ou ainda Guanabar, onde acabava de tomar o pequeno-almoço, tal como já fazia parte da sua rotina diária antes de se dirigir para a Universidade Eduardo Mondlane.
A sua morte foi confirmada ao nosso Jornal pelo Director do Hospital Central de Maputo, João
Fumane, tendo explicado que a equipa médica tudo fez para salvá-lo, mas, dada a gravidade
dos ferimentos, Cistac acabou perdendo a vida.
Informações de fontes policiaiais indicam que ele teria sido atingido na região das costas e no tórax, o que imediatamente deixou-o sem forças para fugir do ataque, muito embora o tivesse tentado, tendo em seguida ficado prostrado no chão.
Na circunstância, o constitucionalista estava numa viatura que se supõe ser de um taxista por si contratado para lhe prestar serviços. O taxista foi uma das testemunhas presenciais do crime e das primeiras pessoas que vendo o Professor no chão a sangrar pelas costas, mas ainda com sinais de vida, pediu aos que se achavam presentes nas redondezas para que o socorressem rapidamente, transportando-o ao Hospital Central de Maputo, que fica a menos de 200 metros do local do crime.
Os tiros soaram pouco depois de o finado ter ocupado o seu assento do lado esquerdo do motorista.
De acordo com os dados colhidos no local dos factos, presume-se que o grupo de atiradores, que se fazia transportar numa viatura ligeira, era constituído por três homens de raça negra e um de raça branca, a quem se atribuiu a execução do crime. Não foi possível apurar a marca e chapa de matrícula do veículo.
Recorde-se que o Professor Gilles Cistac estava nos “últimos dias no centro de uma acesa polémica quando apareceu publicamente a defender em alguns órgãos de comunicação da praça que havia espaço na Constituição moçambicana para acomodar a questão das regiões autónomas, advogada pelo líder da Renamo, Afonso Dhlakama, que reivindica governar algumas províncias onde ele e a Renamo obtiveram o maior número de votos nas eleições gerais de 15 de Outubro. Tal posicionamento contraria o sentimento geral segundo o qual o país é um e indivisível.
A PRM, que compareceu no local e ocupou-se da ocorrência, pouco ou nada revelou aos órgãos de comunicação sobre o crime. Porém, o seu porta-voz, Arnaldo Chefo, disse que uma equipa de peritos deslocou-se ao terreno, estando já a agir no sentido de esclarecer as circunstâncias em que se deu o crime, bem como localizar e responsabilizar os presumíveis autores.
RESPONSABILIZAR OS CRIMINOSOS
O ASSASSINATO do constitucionalista Gilles Cistac ontem em Maputo foi um acto macabro e os seus actores devem ser encontrados e responsabilizados, disse o Assessor do Presidente da República para Assuntos Políticos e Comunicação Social, António Gaspar.
Segundo Gaspar, “Gilles Cistac era uma figura incontornável na nossa sociedade e este acto não tem explicação”.
De acordo com o Assessor do Presidente, o Conselho de Ministros, reunido ontem em mais uma sessão ordinária, instruiu o Ministério do Interior para continuar as buscas no sentido de deter os actores do crime. Aquele órgão espera que os actores sejam encontrados para que sejam exemplarmente punidos.
Entretanto, várias vozes unem-se para condenar este macabro assassinato. Por exemplo, a Ordem dos Advogados de Moçambique (OAM), através de um comunicado de imprensa, disse que está indignada e revoltada com o assassinato de Gilles Cistac.
Para a ordem, o assassinato do seu membro vem, mais uma vez, “mostrar que a construção do Estado de Direito ainda requer uma atitude mais agressiva do Estado para construir os seus alicerces”.
A Associação Parlamento Juvenil de Moçambique condenou veementemente o crime e mostrou total desprezo a esta brutal e tamanha indignidade. Alguns juristas e políticos pediram ao Estado moçambicano para que tudo faça no sentido de identificar e deter os autores do crime.