Sondas, espaço naves e robôs já foram enviados para além da Terra com o objectivo de explorar nosso vasto universo. Logo, o próximo passo dessa evolução é poder colonizar esses ambientes, e Marte está na mira da NASA. Mas a agência espacial norte-americana não é a única interessada em habitar o planeta vermelho: há cerca de dois anos surgia a Mars One, uma iniciativa que pretende levar humanos para o planeta vizinho.
Bancar um projeto tão ambicioso custa caro. Segundo o fundador do programa, o holandês Bas Lansdorp, todo o financiamento do programa vem de empresas privadas e outras companhias simpatizantes com a campanha. E é justamente esse o ponto levantado por um dos finalistas do projeto que declarou que a Mars One é uma farsa e está quebrada financeiramente.
Joseph Roche, Ph.D em física e astrofísica e professor da Trinity College's School of Education de Dublin, na Irlanda, disse à revista Matter que as formas adotadas pela Mars One para arrecadar dinheiro são duvidosas e não muito confiáveis. De acordo com Roche, os selecionados ganham pontos para passar por cada fase do processo de seleção, mas de maneira aleatória e sem um sistema de ranking. "A única maneira de conseguir mais pontos é comprando mercadorias ou doando dinheiro para eles", afirmou.
Ele completou dizendo que, em fevereiro, "os finalistas receberam uma lista de 'dicas e truques' para lidar com solicitações da imprensa". Se os candidatos fossem pagos em dinheiro para dar uma entrevista, então a Mars One os instruía a doar "gentilmente" 75% do lucro arrecadado para o projeto.
Outra questão levantada por Roche é sobre o processo seletivo. Como se trata de uma missão sem volta e de alto risco, é de se esperar que os selecionados sejam humanos saudáveis, capazes de sobreviver em um ambiente completamente distinto da Terra, tanto física quanto psicologicamente. Só que não seria bem isso o que acontece. Roche explicou à revista que a Mars One prometeu fazer vários dias de entrevistas com ele, incluindo perguntas pessoais, treinamentos e testes, mas que, no final das contas, o resultado foi uma única chamada de 10 minutos pelo Skype.
A revista alega que Roche conversou rapidamente com o médico-chefe do programa, Norbert Kraft. Este teria perguntado apenas sobre um manual de Marte e da missão Mars One, que os candidatos tiveram mais de um mês para ler antes do bate-papo com o especialista. No entanto, o médico teria dispensado qualquer outro teste psicológico ou psicotécnico das quase 2.800 pessoas interessadas em colonizar o planeta vermelho.
Para efeito de comparação, a NASA, que já está testando formas de levar humanos a Marte com segurança e trazê-los de volta à Terra, exige pelo menos 1.000 horas de voo em aeronaves a jato para só então habilitar o indivíduo para viagens espaciais. A Mars One, por outro lado, pede apenas que o candidato considere a possibilidade de colonizar Marte e nunca mais voltar ao seu planeta de origem.