Há cinco pessoas mortas e oito feridas, sete das quais em estado grave, depois da derrocada dos andaimes de um edifico com 16 andares em construção, na tarde da terça-feira (14), na zona baixa da cidade de Maputo. Ainda não há informações sobre as causas da desgraça mas existem dados que sugerem a não observância das normas de segurança na obra, uma tese corroborada pelos próprios operários, que se queixam da falta de diversos equipamentos indispensáveis para o seu ofício.
Raul Cossa, porta-voz do Hospital Central de Maputo (HCM), para onde os trabalhadores foram encaminhados, assegurou que dos oito feridos dois seriam submetidos a cirurgias devido à gravidade de fracturas nos membros inferiores. A ministra da Saúde, Nazira Abdula, não se fez de rogada e esteve na maior unidade sanitária do país para acompanhar o tratamento médico in loco.
Também não se sabe ao certo quantos trabalhadores fazem parte da empreitada nem os que se encontravam sobre a estrutura metálica na altura em que a mesma ruiu, cerca das 15 horas. Na ocasião, estava-se a rebocar a parte lateral oeste do prédio que servirá de escritórios do Instituto Nacional de Segurança Social (INSS). Contudo, o Ministério do Trabalho, Emprego e Segurança Social afirma, em comunicado de Imprensa emitido horas após o acidente, que “no momento da queda encontravam-se cerca de 20 trabalhadores”.
Nenhum responsável da obra, a cargo da empresa Jat-Construções, uma sociedade de capitais portugueses e moçambicanos, esteve disponível para prestar informações aos órgãos de comunicação social. Para além da inobservância de uma série de medidas de segurança, apurámos que aquele empreendimento, fiscalizado pela IDTO-Consultores, tem como principal construtor a Britalar, a mesma companhia que executou as obras de má qualidade no prolongamento da Avenida Julius Nyerere, na capital moçambicana.
Um dos operários que se identificou pelo nome de Juvêncio, de 24 anos de idade, que escapou do acidente por ter se afastado pouco antes de os andaimes caírem, declarou que, de repente, sentiu sede e foi beber água. Volvidos poucos segundos ele ouviu um ruído e, em seguida, estrondos. Os andaimes já se tinham defeitos da altura de um prédio com 16 andares e muitos dos seus companheiros ficaram invisíveis.
“Acho que foi Deus que me fez sentir sede para que me afastasse daquela situação, mas, apesar de ter escapado estou deveras triste porque perdi três amigos e os outros continuavam em estado grave”, contou o nosso entrevistado.
Os operários queixam-se de maus tratos por parte dos responsáveis da obra, e afirmam não ter material de trabalho adequado para as suas actividades.
Um outro trabalhador que responde pelo nome de João, disse que escapou da morte em virtude de ter saído dos andaimes pouco tempos antes de desabarem, para efectuar uma chamada telefónica para um seu familiar no sentido de saber a evolução da saúde da filha de 3 anos de idade, que a mesma padece de malária.
Tudo ocorreu de forma rápida e outro grupo de trabalhadores ficou entalado debaixo dos andaimes, tendo sido necessário recorrer a única máquina e à força humana para resgatar as vítimas. Um dos operários que responde pelo nome de Timóteo, de 25 anos de idade, contou que o trabalho decorria, de repente, ouviu-se um estrondo e do lado onde do andaime derrocado viu-se poeira que ofuscava tudo.
O jovem queixa-se de uma alegada negligência por parte dos seus patrões, uma vez que demoraram socorrer as vítimas para o hospital. Apesar disso, os colegas arregaçaram as mangas, colocaram as mãos à obra e tentaram encontrar sobreviventes.
“Falamos com o patronato para alugar uma outra pá escavadora capaz de remover os ferros que estavam sobre os colegas mas alegou-se falta de dinheiro para uma situação que os bombeiros podiam resolver sem precisar de gastar nada”, desabafou Timóteo.
Um outro operário de nome Armando, de 27 anos de idade, também manifestou a sua indignação em relação à falta de prontidão por parte dos seus patrões na busca de socorro e meios circulantes para remover os andaimes e salvar gente.
“Enquanto fazíamos de tudo para salvar vidas, eles preocupavam-se em expulsar os curiosos que se aproximavam para ajudar. Foi triste. (…) Somos tratados como animais”, lamentou o Armando.
Na obra em alusão há dezenas de trabalhadores sem cintos de segurança, luvas, capacetes, botas, entre outros meios materiais indispensáveis para o seu ofício. “Trabalha-se sem as mínimas condições de segurança”, contou um operário identificado pelo nome de Jaime.
Por sua vez, Vitória Diogo, ministra do Trabalho, Emprego e Segurança Social, reconheceu que naquelas obras não há segurança, por isso, a obra foi imediatamente embargada até que a comissão de inquérito multissectorial criada para perceber o que originou o desabamento fatal conclua as investigações.
Segundo a governante, independentemente do que for apurado, a primeira responsabilidade deve ser imputada empreiteiro, pois é imperioso que ele use material com qualidade, cumpra rigorosamente as normas de segurança técnica, proteja os trabalhadores.
“As obras de uma grande envergadura exigem uma maior atenção, acima de tudo, uma responsabilidade. Estamos a lidar não apenas com uma construção, mas com edifício que vai albergar pessoas e envolve outros indivíduos na fase da construção”, finalizou Vitória Diogo.
Na manhã desta quarta-feira(15) David Cumbane, porta-voz do Serviço Nacional de Salvação Pública (SENSAP), deu uma boa notícia, "retiramos tudo até ao último ferro e, felizmente, não encontramos mais vitimas".